segunda-feira, 30 de maio de 2016

A Menina de Cabelos de Sol...







Depois de saboroso lanche feito com seus doces caseiros e o bolo da vovó, sentávamos, na cadeira grande de balanço, eu com 7  anos, no seu colo, à hora das histórias inventadas por ela, como música na construção do meu imaginário e na marcação do som, a cadeira de balanço no ritmo da minha curiosidade infantil acelerada ...

“Era uma vez uma menina dos cabelos de sol, loiros e longos até a cintura. Morava no mundo do Sol, tudo lá era dourado e brilhante... Não existiam brigas, todo mundo falava pelo pensamento e no pensamento, as palavras são mansas, moram bem perto do coração. A menina e sua família viviam felizes e lá todas as famílias eram felizes. Todas as casas tinham jardins de rosas de todas as cores e perfumes. Não tinha noite, pois o Sol é que regia sempre; uma vez a um ano tinha uma Lua cheia que ficava por 7 dias e ela e o Sol ficavam juntos, como uma dança. Alguns momentos ficavam noite com clarão da Lua e outros dia com o Sol regendo. Um dia o Sol brigou com a Lua cheia e todos foram atingidos por essa briga. Ninguém mais entendia o outro. As famílias começaram a brigar todos os dias. Quem foi mais atingida foram as rosas e todas morreram: algumas queimaram, outras murcharam e se despetalaram... A menina, que era muito amiga das rosas, ficou muito triste e nunca tinha conhecido a tristeza. Os seus olhos ficaram sem brilho, a sua voz sem o canto e não queria mais dançar. Enquanto todos brigavam, ela, a única que ficava calada e triste num canto do jardim sem rosas... “

Eu queria saber o que aconteceu com a menina e a minha avó me fazia esperar para outra tarde de sessão de histórias inventadas e contadas por ela. Eu aguardava esta tarde com os meus olhos brilhando de curiosidade, imaginava que o tempo era muito chato e não gostava de histórias, pois demorava tanto para chegar o dia... Ficava perguntando as horas para minha mãe e ela, intrigada, me dizia: "que tanto eu queria saber das horas?...”

Quando cheguei à casa da minha avó, de imediato fui para cadeira de balaço, argumentando que precisava saber da menina dos cabelos de sol e o lanche ficaria para depois da história contada... Ela riu, dizendo que eu tinha fome de história imaginada!...

“A menina dos cabelos de sol estava muito fraquinha, não queria mais abrir os olhos para o mundo desmantelado daquele... Nem a mãe dela notava que a tristeza nela, estava sugando a sua luz-vida, todos continuavam na animação para as brigas de dia e de noite, de noite e de e dia... Foi quando o Sol resolveu se separar de vez da Lua cheia e, assim: os dias ficaram com o Sol e as noites com a Lua, mas a Lua muito contrariada com a decisão do Sol, resolveu se expressar por períodos, os seus sentires femininos na oscilação das vibrações. Ela passou a influenciar as marés e o mundo do Sol nunca mais ficou o mesmo. Todos se acostumaram com o mundo do Sol desfeito, mas ela não. Um dia bem cedinho, antes de o Sol nascer, ela fugiu para dentro dele e hoje aqueles raios do Sol, fininhos, são os cabelos dela!...”

Enquanto comia o meu lanche, não parava de pensar na menina e perguntei a minha avó:
- A menina ficou alegre lá. Naquele lugar a tristeza nunca mais vai entrar nela, né isso, minha avó?
- Ela pode ser maior que a tristeza! (minha bonequinha...)
-A senhora devia contar essa história para Mainha e meu Pai pararem de brigar. Os adultos brigam muito! Nós, crianças, quando brigamos, fazemos as pazes logo...
-É, minha querida, as crianças sabem brincar com a vida!...
-Vou brincar com as minhas bonecas e todas irão morar no mundo do Sol, quando não foi desfeito...
-Vó, quando tiver bem chato lá em casa, eu voo até o Sol e fico com os meus cabelos junto com os cabelos da menina!...
- Sim. A menina era parecida com você!...
- Você sabe como voar?
- Sei, Vó. É fechando os olhos e imaginando!...
- Isso, minha bonequinha!... 




 Suzete Brainer (Direitos autorais registrados)




Uma pequena pausa,
breve de volta a visitar cada
espaço para o voo da partilha
que tanto aprecio.

Beijo e Abraço de Paz!

terça-feira, 24 de maio de 2016

Cadê as Minhas Asas?











Uma morte que me dilacera em

Cortes pequenos do meu sol desfalecido,

Como uma rua deserta que me circula,

A única porta sou eu,

Sentada à minha espera.


Frágeis janelas que abrem e sempre fecham.


Preciso dos pássaros

Para voarmos junto,

Hoje eu não quero o chão.





Suzete Brainer (Direitos autorais registrados)

Imagem: Obra de Daniel Gerhartz.





sexta-feira, 20 de maio de 2016

O Gesto da Existência











Minhas asas guardadas para amanhã.

O meu voo leva a liberdade
Nascida pela manhã;
Tem um tom vermelho do sol do meio dia.
As palavras são soltas,
A correr sem algemas
Da censura prévia.

A simplicidade passeia pelo o meu
Campo das ideias,
Gosto dos frutos das árvores com sabor
Da natureza molhada da chuva,
O banho de chuva no mar deserto,
As estrelas acesas no escuro do céu numa montanha.

Gosto da vida num sopro
Morno do vento, a desarrumar o meu cabelo;
A tocar em mim,
O gesto da existência.






Suzete Brainer (Direitos autorais registrados)

Imagem: Obra de Lauri Blank.










sexta-feira, 13 de maio de 2016

Golpe?












Golpe?

Golpe sim.

A faca armada

            armadilha

           artimanha

          articulada
                                       
Esfaqueando a democracia.


Golpe?

Comboio de sombras que se locomovem

Pela madrugada,

Sombras insones,

Pesadas, que carregam as suas malas

Cheias de crimes e impunidades.


Golpe?

Num tempo usurpado,

Os dias claros ficarão com a sombra da ilegitimidade!...







Suzete Brainer (Direitos autorais registrados)


Imagem: Obra de Alexey  Alemany.






quarta-feira, 11 de maio de 2016

Breve Noturno de Maio







Sakura






Maio nesta brisa suave e ondulada,

Fico nas gotículas de chuva

Tocando o mar no renascimento das ondas gigantes,

Assustando a rotina cinza.


O vento de maio anuncia delicadamente

A mudança de clima.

Mesmo que o calor não desista

Do seu papel principal,

Maio canta um breve noturno de sossego.





Suzete Brainer (Direitos autorais registrados)

Imagem: Obra de Keith Mallett.









quarta-feira, 4 de maio de 2016

Eterno Olhar...











Há uma saudade

Que me embala

Ao teu encontro,

Seguindo a lembrança

Da tua voz,

Que não faz mais

A viagem do retorno...

Só hoje,

Gostaria de abraçar-te, mãe;

Sentir a tua vida

Perto da minha,

Tocar a campainha

E encontrar o teu sorriso

(Algumas horas de diálogo

 E o teu olhar me protegendo).

Mas, este teu olhar

Ficou em mim

Num suspiro

Da tua presença...







Suzete Brainer (Direitos autorais registrados)

Imagem: Obra de Agnes-Cécile.