
Tinha eu por volta dos 8 a 9 anos, quando a minha professora
convida-me para participar de uma encenação teatral representativa das raças
originárias da miscigenação do nosso país. Ela quis determinar a escolha de cada criança pela adequação que ela imaginava sobre cada raça que compõe a população brasileira, ou seja: uma criança loura representaria a raça branca; uma negra representaria a a raça negra; morena, cabelo escorrido, representaria a indígena; a mestiça, alguém que lhe parecesse mais adequada a representar a cor mestiça. Daí ela ordenou que eu
fosse da raça branca, fez isso com entusiasmo na voz, como se tivesse me
premiando a ocupar o pódio vencedor. Inesperadamente surpreendida com a minha
recusa em participar do mural, ao lhe dizer que só participaria se eu fosse a índia e não
a branca, ficou muito desconsertada com a minha atitude. O inusitado da situação foi a expressão facial da professora, ela
totalmente incrédula sobre a minha teimosia em querer ser índia, e não branca, na encenação.Visivelmente Irritada, fez uma pressão enorme sobre mim, para me convencer que a opção de ser branca era superior, valorizada e almejada por todos. Quando ela
argumentada, usava do recurso da pausa na fala, para provocar em mim o efeito de
assimilar as suas informações. Eu, bem plácida e irredutível, na minha certeza de só querer ser a índia
no mural. No final, ela bastante brava com o fracasso da subjugação e eu acompanhando-a na dança da irritação, para, finalmente, carimbar que não iria participar de nada, se eu não fosse a índia. Ela me deu um bilhete intimando a minha mãe
comparecer comigo numa reunião marcada por ela.
Chegando em casa, entreguei o tal do bilhete para minha mãe,
sem comunicar nada do ocorrido na escola com a professora. Noutro dia, a minha
mãe compareceu e escutou toda argumentação da educadora. Com a objetividade
característica da minha mãe, ela perguntou à Mestra se a atividade
era obrigação curricular, ela disse que não, que era um evento facultativo a cada criança que quisesse participar. Prontamente minha mãe comunicou à professora que respeitava a vontade de sua filha não participar
deste evento.
Na volta à casa, minha mãe somente me fez uma pergunta
– Por que eu queria ser a índia?
Eu lhe respondi: Porque os índios são livres, amam a
natureza, tomam banho de rio e cachoeira e moram na Floresta Amazônica.
Minha mãe não disse nada, somente fez aquele olhar (um olhar
com o sorriso explodindo nos olhos! ...).
Suzete Brainer (Direitos autorais registrados)
Imagem: Obra de Ingrid Tusell.