domingo, 1 de novembro de 2015

O Nada Apreciado












Às vezes sinto

         esta faca me cortando por dentro.

Um nó

       enovelado

      deslizante

ao encontro da incompreensão

ao rés de mim...


Os cortes

      levam-me a dissipar

     a ilusão que carrego.

Solidão liquida

bem ao alcance da minha alma,

bem perto do nada do mundo.


Neste fio eletrificado

          dos dias acesos,

emana o sopro

         do meu rio que segue



A nudez da alma

       (re)colhida

do mergulho

         no nada

que revela a

         desimportância

de ser importante.


        



Suzete Brainer (Direitos autorais registrados)

Imagem: Obra de Lídia Wylangowska. 






19 comentários:

  1. Li o seu poema várias vezes, porque é profundo e encerra aspetos bem interessantes.
    Os meus aplausos para este seu excelente poema.
    Tenha uma boa semana, minha amiga Suzete.
    Um abraço.

    ResponderExcluir
  2. Essa faca simbólica do sofrimento fracturante que nos pôe de rastos, pela incompreensão que assola. Como diria Florbela Espanca ; " Quem nos deu asas para andar de rastos?..." Um estado de espírito que nos horizontaliza em vez de nos fazer elevar, que nos faz descrer da ilusão e do sonho que a acompanha. O "lugar" ou dimensão em que o vazio se une ao nada do mundo, como se toda a importância do ser se desvanecesse na sua desimportância perante a desfaçatez do mundo.
    Um dos mais belos poemas que já aqui li, e olha que são todos excelentes! :-)
    Obrigada, querida Suzete. Gostei muito.
    xx

    ResponderExcluir
  3. ...e todavia, precisamos também de cuidar de nós...


    beijo amigo

    ResponderExcluir
  4. bálsamo e pétalas no gume dessa nudez ferida...

    dói de tão belo - teu poema

    beijo

    ResponderExcluir
  5. Boa noite, Suzete. Adorei seu piema do inicio ao fim, reli e senti uma profundidade imensa nela.
    Quantos cortes sofremos porque não conseguimos evitar a fraqueza de nós mesmos.
    Fechou perfeitamente, pois nada interessa na essência do que a nudez da tal falta de importância.
    Parabéns!
    Excelente mês de Novembro.
    Beijos na alma.

    ResponderExcluir
  6. Que belo instantâneo, que belo gesto vital.
    E o que dizer do dinamismo imagístico que aflora de cada verso?
    E o que dizer da sensibilidade perceptiva capaz de apreender, nas malhas da sua atenção, o essencial da realidade neste instantâneo?
    E o que dizer da densidade que se impregna na atmosfera poética deste poema? Esta “faca cortando por dentro”, que nos faz apreender a consciência e a preocupação com a linguagem poética.
    É para tirar o chapéu.
    Parabéns pelo belo poema!

    Forte abraço, Suzete.

    ResponderExcluir
  7. A procura da simplicidade, do essencial, uma viagem de crença e ousadia ao mais profundo de nós...
    Muito bem, Suzete!

    Um beijinho :)

    ResponderExcluir
  8. Suzete, como é belo o sentido de seus versos! Estar consciente torna gritante a ferida imposta pela desilusão frente a uma realidade que não foi sonhada. O que é ser importante quando o vazio impera e a representatividade é negativa? Lá, onde estamos nus, percebemos, com clareza, que fora mora o nada. Parabéns, querida, pelo talento e pela sensibilidade!!! Bjs.

    ResponderExcluir
  9. "A desimportância de ser importante"...

    Parabéns!

    Maria Luísa

    "os7degraus"

    ResponderExcluir
  10. Não apenas belo, mas doído, machucado, poema moído na alma que em cortes passa a ter consciência da "desimportância de ser importante". Ilusões desfeitas, rio que segue... Belo! Tão belo (ou mais, se possível for) quanto os demais de sua lavra de riquíssimo conteúdo.
    Suzete, minha querida, que as horas dos teus dias cheguem inundadas de sorrisos e de estrelas para iluminar cada vez mais os teus caminhos.
    Meu carinho num beijo,
    Helena

    ResponderExcluir
  11. "A desimportância de ser importante" Essa inquietações também me fustigam, me tomam de assalto, meu eu em pedaços, dividido, espalhados pelo chão. Essas inquietações, um mal estar no mundo, uma inequação. Tantas perguntas, tanta ânsia de respostas, uma eterna insatisfação. Muito bom, Suzete, reflexivo. Aprecio. Abraços!

    ResponderExcluir
  12. Correção: Onde digo "Inequação", quero dizer na verdade, "Inadequação".

    ResponderExcluir
  13. Olá querida Suzete,

    Estive aqui às duas da madrugada, mas o sono estava atrapalhando a minha concentração na leitura. Naquele momento, após a primeira leitura do poema, senti necessidade de voltar para ler mais desperta, haja vista a profundidade do mesmo.
    Você foi fundo nesta inspiração.
    A faca cortando por dentro impressiona. E como corta, principalmente quando nos detemos em reflexões sobre os caminhos do mundo ou mergulhamos no fundo do nosso ser, onde tantas questões costumam nos assombrar e/ou deixar pontos de interrogação sobre a alma humana e sobre nós próprios. Os cortes, muitas vezes doloridos, despertam a alma para verdades absolutas, nubladas pelo cotidiano. Caem as ilusões, mas o rio da vida prossegue em seu curso, com desvios mais sábios e altruístas. E, a partir daí, já se tem consciência da 'desimportância de ser importante', pois o que realmente importa são os valores que levaremos ao atravessarmos a fronteira para a eternidade.

    Belíssimo!

    A obra de Lídia Wylangowska é fantástica e está em perfeita sintonia com o poema.

    Beijo.

    ResponderExcluir
  14. Qualquer mal estar, seja de índole pessoal ou social, quando traduzido pelas palavras adequadas à ferida da alma, produz no leitor um sentir idêntico, através da estética poética. Mas o poeta tem esta força: sente, exorciza, reergue-se e volta a sonhar.
    Belo, muito belo, este teu poema!
    Bjo, querida Suzete. :)

    ResponderExcluir
  15. O gume da faca. A ilusão. A nudez da alma. Tudo em palavras que tornam belo este poema.
    Um beijo.

    ResponderExcluir
  16. Gostei demais , Suzete . " A faca que corta por dentro ", foi descrita com maestria . Muito bonito seu poema . Eu a parabenizo e a agradeço pela partilha . Beijos

    ResponderExcluir
  17. Nossa,dizes que tens uma faca a cortar-te por dentro,nossa,no dia em que escreveste isto devias sentir-te a pessoa mais triste e infeliz do mundo!! Tomara-me que essa faca já tenha desaparecido!! http://mundoteenagerofsophia.blogs.sapo.pt

    ResponderExcluir

Este é um espaço importante para você deixar inscrito:

A sua presença,

O seu sentir,

A sua leitura,

A sua palavra.

Grata por compartilhar este momento de leitura aqui!

Abraço de Paz!

Suzete Brainer.