Depois de saboroso lanche feito com seus doces caseiros e o
bolo da vovó, sentávamos, na cadeira grande de balanço, eu com 7 anos, no seu colo, à hora das histórias
inventadas por ela, como música na construção do meu imaginário e na marcação
do som, a cadeira de balanço no ritmo da minha curiosidade infantil acelerada
...
“Era uma vez uma menina dos cabelos de sol, loiros e longos
até a cintura. Morava no mundo do Sol, tudo lá era dourado e brilhante... Não
existiam brigas, todo mundo falava pelo pensamento e no pensamento, as palavras
são mansas, moram bem perto do coração. A menina e sua família viviam felizes e
lá todas as famílias eram felizes. Todas as casas tinham jardins de rosas de
todas as cores e perfumes. Não tinha noite, pois o Sol é que regia sempre; uma
vez a um ano tinha uma Lua cheia que ficava por 7 dias e ela e o Sol ficavam
juntos, como uma dança. Alguns momentos ficavam noite com clarão da Lua e
outros dia com o Sol regendo. Um dia o Sol brigou com a Lua cheia e todos foram
atingidos por essa briga. Ninguém mais entendia o outro. As famílias começaram
a brigar todos os dias. Quem foi mais atingida foram as rosas e todas morreram:
algumas queimaram, outras murcharam e se despetalaram... A menina, que era muito
amiga das rosas, ficou muito triste e nunca tinha conhecido a tristeza. Os seus
olhos ficaram sem brilho, a sua voz sem o canto e não queria mais dançar.
Enquanto todos brigavam, ela, a única que ficava calada e triste num canto do
jardim sem rosas... “
Eu queria saber o que aconteceu com a menina e a minha avó me
fazia esperar para outra tarde de sessão de histórias inventadas e contadas por
ela. Eu aguardava esta tarde com os meus olhos brilhando de curiosidade,
imaginava que o tempo era muito chato e não gostava de histórias, pois demorava
tanto para chegar o dia... Ficava perguntando as horas para minha mãe e ela, intrigada, me dizia: "que tanto eu queria saber das horas?...”
Quando cheguei à casa da minha avó, de imediato fui para
cadeira de balaço, argumentando que precisava saber da menina dos cabelos de
sol e o lanche ficaria para depois da história contada... Ela riu, dizendo que
eu tinha fome de história imaginada!...
“A menina dos cabelos de sol estava muito fraquinha, não
queria mais abrir os olhos para o mundo desmantelado daquele... Nem a mãe dela
notava que a tristeza nela, estava sugando a sua luz-vida, todos continuavam na
animação para as brigas de dia e de noite, de noite e de e dia... Foi quando o
Sol resolveu se separar de vez da Lua cheia e, assim: os dias ficaram com o Sol
e as noites com a Lua, mas a Lua muito contrariada com a decisão do Sol, resolveu
se expressar por períodos, os seus sentires femininos na oscilação das
vibrações. Ela passou a influenciar as marés e o mundo do Sol nunca mais ficou o
mesmo. Todos se acostumaram com o mundo do Sol desfeito, mas ela não. Um dia
bem cedinho, antes de o Sol nascer, ela fugiu para dentro dele e hoje aqueles
raios do Sol, fininhos, são os cabelos dela!...”
Enquanto comia o meu lanche, não parava de pensar na menina e
perguntei a minha avó:
- A menina ficou alegre lá. Naquele lugar a tristeza nunca
mais vai entrar nela, né isso, minha avó?
- Ela pode ser maior que a tristeza! (minha bonequinha...)
-A senhora devia contar essa história para Mainha e meu Pai pararem
de brigar. Os adultos brigam muito! Nós, crianças, quando brigamos, fazemos as
pazes logo...
-É, minha querida, as crianças sabem brincar com a vida!...
-Vou brincar com as minhas bonecas e todas irão morar no
mundo do Sol, quando não foi desfeito...
-Vó, quando tiver bem chato lá em casa, eu voo até o Sol e
fico com os meus cabelos junto com os cabelos da menina!...
- Sim. A menina era parecida com você!...
- Você sabe como voar?
- Sei, Vó. É fechando os olhos e imaginando!...
- Isso, minha bonequinha!...
Suzete Brainer (Direitos autorais registrados)
Uma pequena pausa,
breve de volta a visitar cada
espaço para o voo da partilha
que tanto aprecio.
Beijo e Abraço de Paz!
breve de volta a visitar cada
espaço para o voo da partilha
que tanto aprecio.
Beijo e Abraço de Paz!
Eu como um leonino posso afirmar, que existem
ResponderExcluirpessoas com cabelos de Sol. Elas brilham!
Arnaldo,
ExcluirGrata pela sua visita e tão belo e gentil
comentário!
Abraço de paz!
Ps:Não percebo e não tenho acesso ao seu blog
para lhe fazer uma visita, por isso lhe agradeço
no meu espaço.
é minha convicção (ja tenho idade para tanto rss) que essa briga de estrelas e astros a Lua venceu...
ResponderExcluire o "feitiço da Lua" provém vitória.
e o sol guardou seus raios para colorir de oiro os cabelos das meninas
uma historia de encantamento, primorosamente escrita
beijo
"provém dessa vitória", deve ler-se
ResponderExcluirSuzete, que postagem mais terna! Fizeste-me lembrar de minha avó materna que também me chamava de "minha bonequinha" e me contava histórias deste tipo, onde misturava o seu fascínio de contadora de histórias à magia que a própria história já trazia. Passávamos um bom tempo na sua varanda, ambas sentadas numa cadeira de balanço, depois daquele gostoso lanche onde não podia faltar o bolo de chocolate e o sorvete de morango. E eu ficava ali, embevecida, olhando a suavidade do seu rosto que em minhas lembranças chega hoje como a pessoa mais generosa que já conheci na vida.
ResponderExcluirGrata, minha linda, por este precioso momento de partilha.
Que a tua pausa seja bem pequenina, para que a saudade dos teus escritos não alongue em nós a tua ausência.
Sorrisos e estrelas a te acompanhar no meu carinho,
Helena
"Isso minha bonequinha". Imaginando. Com os olhos fechados é mais fácil mas com eles abertos vê-se o céu.
ResponderExcluirLindíssima, Suzete.
Bj.
Oi, Suzete, mas eu fiquei igual a tua menina, ansiei pelo fim da história!! Me reportei à minha infância quando lia a coleção Reino Infantil e muitas outras histórias. Essa sua é linda. Quanta ternura, delicadeza, reflexão.
ResponderExcluirO que dizer mais? Parabéns e um obrigada por me fazer voltar... minutos preciosos passei aqui. Quero mais. rs
beijos!
Suzete , sua avó tão sensível na composição das histórias , foi , com certeza , a responsável por sua trajetória literária . Fico contente . Parabéns a ambas . Beijos e não se ausente por muito tempo .
ResponderExcluirUma história cheia de ternura.
ResponderExcluirSempre podemos viajar através da imaginação.
Um abraço e até seu retorno.
Sônia
O imaginário mágico da infância. Tão maravilhosa a história, minha amiga.
ResponderExcluirBeijos.
Histórias de encantar, cuja energia são autênticos cabelos de sol...
ResponderExcluirAté breve, Suzete :)
Que delícia! A história, a tua avó sábia, TU e a tua escrita.
ResponderExcluirSinto-te tão dentro dessa vivência!
Bjo, Suzete :)